domingo, 15 de julho de 2018


Crise de representatividade dos sindicatos?

A edição de 14/07 do jornal Agora São Paulo traz uma importante reportagem, assinada pelos meus colegas de redação Fernanda Brigatti e Clayton Castelani:
“Sindicato tem fila para barrar taxa em salário
O prazo final para barrar o desconto de uma contribuição levou uma pequena multidão ao Sitraemfa (...), localizado no Tatuapé, zona leste da capital. (...)
O orientador socioeducativo Adalberto Vieira, 35 anos, levou duas horas para chegar ao início da fila.
‘É um absurdo passar por essa situação para evitar um desconto no salário que irá para um sindicato que não faz nada por nós", reclamou.’”
Há uma crise de representatividade na maioria dos sindicatos? Quais as causas? A instrumentalização político-partidária seria uma delas?
Acho os sindicatos ainda uma importante ferramenta de defesa dos interesses econômicos dos assalariados. Os erros dos líderes sindicais não podem ser confundidos com a importância do papel da instituição. Não se pode jogar o bebê junto com a água suja da banheira.
Defendo que os trabalhadores fortaleçam seus órgãos de representação com contribuições voluntárias, superando o sindicalismo para-oficial controlado pelo Ministério do Trabalho, herança do Estado Novo (1937-1945), de inspiração na Itália fascista de Mussolini.
Penso que, se a ação de uma diretoria não está boa, os associados devem atuar para melhorá-la e/ou realizar eleições e mudar os dirigentes. Devem buscar também democratização e transparência de suas estruturas.


O mundo político precisa avançar

Creio que o mundo político não se deu conta de que o país avançou desde a promulgação da Carta de 1988. Tanto institucionalmente, quanto na consciência da sociedade civil.

O Ministério Público que hoje conhecemos foi criação dos constituintes de 1988. Com erros aqui e ali, a sua atuação tem sido positiva nos diversos níveis da federação.

O Movimento Pela Ética na Política, que congregou uma ampla rede de organizações e setores da sociedade civil, surgiu em 1992 e foi o grande mobilizador das manifestações pelo impeachment de Collor, derrubado por corrupção.

O presidente Itamar Franco, não só por suas convicções e pelo seu passado, como também pela sua astúcia de político mineiro, captou os sinais da sociedade. Realizou um governo em que a moralidade administrativa predominou.

Desde então, o Brasil colheu avanços, como a universalização do acesso à educação, com um crescimento vigoroso do número de estudantes universitários, ávidos por conhecimento, informação e formação.

A revolução nas telecomunicações, a exemplo da revolução da imprensa de Gutemberg, no século XVI, levou à democratização mais ampla da informação, do conhecimento e da comunicação, com cidadãos ligados em rede, sem maiores intermediações.

Apesar disso, o mundo político, em seus maiores partidos, continuou a fazer a velha política do velho Brasil elitista, conservador e excludente, do getulismo da sociedade civil sob controle do Estado, da política do “rouba mas faz” de Adhemar de Barros e do seu legítimo herdeiro, Paulo Maluf.

Avalio que as manifestações de 2013, com slogans “eles não nos representam”, mostravam o cansaço de parcela expressiva da sociedade brasileira com a política fisiológica, do vale tudo para se manter no poder, de alianças de geleia geral, sem programas, ideias e princípios.

As manifestações subsequentes foram novas demonstrações de repulsa à enganação e ao estelionato eleitoral, quando o candidato promete uma coisa e depois faz outra.

As baixas popularidades de Dilma e de Temer talvez possam ser explicadas para além da crise econômica. Podem indicar que a tolerância de boa parte dos brasileiros com o chamado ‘presidencialismo de cooptação’ baixou severamente.

O mundo político precisa avançar para uma nova ética política baseada em valores, princípios, programas, transparência, interesse público, respeito à sociedade. Chega de mais do mesmo.

A charge é da edição de 14/07 do jornal Agora São Paulo.