sexta-feira, 2 de novembro de 2018


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Quem liderará a centro-esquerda brasileira?

Com a derrota de Fernando Haddad, o encarceramento do ex-presidente Lula e a alta rejeição ao PT nos grandes centros urbanos, abriu-se uma disputa pela liderança da centro-esquerda brasileira.

Três blocos parecem se posicionar nessa disputa:

1 - PT

O partido conseguiu eleger a maior bancada de deputados, 56 num total de 513 de nosso fragmentado parlamento. Elegeu 6 senadores e 4 governadores.

O PT é dos poucos partidos a contar com uma militância, é bem estruturado nacionalmente e tem capilaridade na sociedade civil.

Porém, sua liderança foi reprovada pela maioria dos eleitores e passou a ser contestada por antigos aliados.

2 -  O Bloco PSB-PDT-PCdoB

O PSB manteve-se como partido médio ao eleger 32 deputados, 2 senadores e 3 governadores.

Chegou ao 2º turno em São Paulo com Márcio França, que arrancou de 3% nas pesquisas para 48,2% dos votos válidos.

O partido tenta se desprender da órbita do PT. Lançou Anthony Garotinho à Presidência em 2002 e Eduardo Campos em 2014.

O pernambucano, apesar de pouco conhecido, partia com 9% nas pesquisas em agosto de 2014, quando foi vítima de um acidente de avião.

PDT

O PDT do candidato Ciro Gomes elegeu 28 deputados, 4 senadores e 1 governador.

Quando era presidido por Leonel Brizola, rompeu com Lula ainda em 2003.

Em 2006, lançou a candidatura à Presidência do senador Cristovam Buarque.

PCdoB

O PCdoB fez 9 deputados e reelegeu o governador do Maranhão, Flávio Dino. 

Ensaiou lançar a candidatura de Manuela D'ávila à Presidência, mas se compôs com o PT.

PSB, PDT e PCdoB criaram um bloco parlamentar conjunto em 2007 e prometem repetir a dose.

Em algumas cidades importantes, como Recife e Belo Horizonte, atuaram conjuntamente nas eleições municipais de 2008, 2012 e 2016, tendo como principal oponente o PT.

3 – O Bloco PPS-PV-Rede

O PPS fez 8 deputados e o PV 4. A Rede de Marina Silva elegeu apenas um representante na Câmara, mas conseguiu eleger 5 senadores e o PPS fez 2.

PPS

O PPS lançou Ciro Gomes a Presidência em 1998 e 2002. Deixou o governo Lula ainda em 2004, antes do mensalão.

Em 2014, coligou-se ao PSB em apoio a Eduardo Campos.

Agora em 2018, ensaiou lançar Cristovam Buarque e depois o apresentador Luciano Huck. Por fim, participou da coligação de Geraldo Alckmin, do PSDB.

PV e Rede

O PV lançou Marina em 2010 e Eduardo Jorge em 2014. Agora em 2018, aliou-se a Marina, candidata da Rede, que amargou 1% dos votos.

Os dirigentes do PPS, PV e Rede já anunciaram a intenção de criar um novo partido juntando as três legendas.

PSDB

Uma incógnita é o posicionamento do PSDB, um partido originariamente de centro-esquerda e que hoje está mais perto do centro politico. O PSDB elegeu 29 deputados, 8 senadores e 3 governadores.

Oposição

Que tipo de oposição farão todos esses partidos?

No discurso de Haddad após a derrota, o PT sinalizou que fará oposição às reformas do Estado, como fez nos governos FHC e Temer. 

O partido opô-se também a reformas propostas pelos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa no segundo governo Dilma.

Ciro Gomes declarou que buscará uma frente democrática para se opor a Bolsonaro. Nessa frente incluiu PSDB, DEM e PPS, além do PSB, PDT e PCdoB, porém exclui o PT ou o coloca em posição secundária.

O PPS declarou oposição a Bolsonaro, no entanto se mostrou aberto a debater as reformas do Estado. Parece ser esse o posicionamento da Rede e do PV, com algumas nuances.

As declarações dos líderes do PSDB são cautelosas quanto ao posicionamento do partido em relação ao novo governo, com alas favoráveis ao Jair Bolsonaro.

Esses partidos poderão liderar fatias do eleitorado, mas para pretender liderar a oposição, conquistar a maioria dos cidadãos e vencer a próxima eleição, eles precisam apresentar um projeto para o país.

E é aí que a porca torce o rabo.

Projeto de país

PT, PSB, PDT e PCdoB parecem presos ao nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950/1960, que, segundo alguns analistas, deu errado nos governos dos presidentes Ernesto Geisel e Dilma Rousseff.

PSDB, PPS, PV e Rede parecem ter superado a visão nacional-desenvolvimentista, segundo eles, com base na nova realidade do país e do mundo globalizado. Mas esses partidos ainda não apresentaram com clareza um novo projeto alternativo.

Sem tal programa, todos eles dificilmente conquistarão a liderança não só da centro-esquerda, mas principalmente de toda a sociedade brasileira.

Um projeto comum poderia ser um necessário contraponto ao ultraliberalismo anunciado pelos novos ocupantes do Palácio do Planalto.

Mas é algo difícil não só pelas diferenças programáticas entre as agremiações como muito especialmente pela legítima disputa de liderança.

Até 2022, ainda teremos muito jogo.