segunda-feira, 15 de outubro de 2018


Sérgio Dieb e 
a propina das empresas de 
ônibus

Em 1985, Garibaldi Alves era prefeito de Natal e a venda do ticket de estudante era feita no bairro da Ribeira, na sede dos sindicato das empresas de ônibus.

O estudante pagava adiantado no começo do mês a passagem que usaria ao longo de 30 dias.

Era tempo de hiperinflação. Você podia aplicar o dinheiro por um dia no overnight e sacar um bom rendimento no dia seguinte.

Garibaldi Alves enviou à Câmara um projeto que estabelecia que a venda do ticket de estudante passaria a ser feita pela Prefeitura.

O dinheiro seria repassado ao final do mês para as empresas. Nesse ínterim, a Prefeitura aplicaria o dinheiro e o rendimento seria investido na melhoria do sistema, como modernização dos pontos de ônibus.

O projeto foi derrubado na Câmara. De um total de 11, somente três vereadores votaram favoravelmente à proposta do prefeito: os dois do PCB, Sérgio Dieb e Wober Júnior, e um do PMDB, Abel Brasil, um cara de origem humilde do bairro das Rocas.

Eu estava no gabinete de Sérgio Dieb quando Abel Brasil apareceu e contou que um lobbista prometera muita doação de campanha caso votasse contra o projeto do prefeito.

– Pois aqui eles nem apareceram, respondeu Sérgio Dieb.

Sérgio Dieb, de 1980 a 1988, tinha como única atividade cumprir o mandato parlamentar que lhe fora conferido pelo voto dos cidadãos de Natal.

Arquiteto e ator, recusou um convite da diretora Tizuka Yamazaki para estrelar um filme no papel de Santos Dumont, pois não poderia largar então a função de presidente da Câmara.

Além disso, ele me segredou que tinha medo de avião.

Sérgio Dieb, um socialista convictamente democrata, dependia exclusivamente do salário de vereador para sobreviver e desenvolver suas atividades em defesa dos natalenses. Por isso, merecia ser bem pago.

Já os que defendem interesses escusos em qualquer lugar do Brasil podiam até dispensar o salário de vereador, pois o grosso que recebiam era por baixo do pano.