segunda-feira, 4 de junho de 2018















Itália, Alemanha e Brasil

Em 2013, fui com a família visitar os países dos antepassados da minha mulher Eldi Willms, Alemanha e Polônia. De quebra, demos uma pulo na República Tcheca, onde estudei de 1989 a 1992.

Na fila para visitar o campo de concentração de Auschwitz, um casal de italianos sentava o pau em Angela Merkel, a primeira-ministra alemã.

Era época de crise fiscal no sul da Europa: a dívida pública explodiu nos “PIIGS”: Portugal, Itália, Irlanda*, Grécia e Espanha.

Alguns líderes daqueles países pediam o relaxamento das regras da União Europeia e recebiam um sonoro “Nein” da Frau Merkel.

Em Berlim, contei a história a um casal de amigos, sendo ele um alemão. Ele riu.

O meu amigo berlinense disse-me que o alemão ganha mais que o italiano, porém paga mais impostos e tem serviços públicos de melhor qualidade.

E que os políticos italianos não tinham capacidade para convencer os seus eleitores a pagar mais impostos.

Na Itália, como no Brasil, há setores que não querem pagar impostos e adoram mamar nas tetas do Estado.

Foi um governo de centro-esquerda, formado pelo Partido Social Democrata e pelos Verdes, que realizou as reformas social-trabalhista e previdenciária na Alemanha.

A Alemanha atuou nas duas pontas: manteve a arrecadação e adaptou o gasto público às novas realidade do país e do mundo globalizado.

As reformas empreendidas pelo primeiro-ministro Gerhard Schröder, de 1998 a 2005, causaram controvérsias e um racha no seu próprio partido.

Seu defensores dizem que elas prepararam a Alemanha para o crescimento econômico que se verificou posteriormente. O país tem uma baixa taxa de desemprego e estabilidade econômica. É um forte pilar da UE.

Seus críticos à esquerda apontam o outro lado da moeda: a precarização da força de trabalho. Talvez ambos os lados tenham razão e seja preciso uma solução para o problema apontado principalmente pelos sindicatos.

O Emmanuel Macron da Itália, o jovem Matteo Renzi, primeiro-ministro de 2014 a 2016, do Partido Democrático, também de centro-esquerda, tentou realizar reformas no país, mas não obteve o mesmo consenso que o seu colega alemão.

E a Itália continua a viver suas dificuldades políticas e econômicas.

Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista, autor do livro “Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil”.

goo.gl/GBKseb

* A Irlanda está ao norte do Velho Continente.

Na foto, o social-democrata Gerhard Schröder, do SPD, e Joseph "Joschka" Fischer, dos Verdes, a chamada “Aliança Verde-Vermelha” que governou a Alemanha de 1998 a 2005.













Ditadura, corrupção e impunidade. Democracia e prisão
Paulo Maluf (PP-SP) é o político-símbolo da corrupção. Seus partidários o defendem com o “rouba, mas faz”.
Em 2017, o Supremo Tribunal Federal condenou o ex-deputado pelo crime de lavagem de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, Maluf recebeu propina de contratos públicos com as empreiteiras Mendes Júnior e OAS quando foi prefeito de São Paulo, de 1993 a 1997.
Sua lista de escândalos é longa, desde que assumiu a prefeitura pela primeira vez, em abril de 1969, por nomeação do general Costa e Silva, à época presidente do Brasil.
É famosa a história de que teria corrompido os convencionais da Arena, o partido que apoiava a ditadura, para ser indicado governador do estado de São Paulo em 1979.
Como governador, foram muitos os rolos, sendo um dos mais conhecidos o Caso Lutfalla.
Usando de sua influência com os militares, Maluf conseguiu que o BNDE, banco federal à época do general Geisel, fizesse empréstimo à empresa de familiares de sua esposa, Sylvia Lutfalla Maluf, mesmo sabendo que o grupo empresarial estava em regime falimentar.
O empréstimo foi aprovado, a empresa faliu e o dinheiro do Tesouro Nacional foi perdido. Ninguém foi punido.
Foi preciso acabar com a ditadura, aprovar a Constituição de 1988, que criou e garantiu autonomia ao Ministério Público e independência ao Judiciário, para que Maluf fosse finalmente julgado e condenado por um dos seus crimes.
Só os tolos e ignorantes, manipulados por mal-intencionados, acreditam que ditaduras combatem a corrupção dos amigos do rei.
A história do século XX demonstra que, quanto mais ditadura, mais corrupção.
Quanto mais democracia, isto é, Judiciário e Ministério Público independentes, oposição atuante no Congresso, imprensa livre e cidadãos vigilantes, menores são as chances da corrupção prosperar.
A democracia deve ser aperfeiçoada para tornar o Judiciário mais célere, a representação partidária mais fiel aos interesses da sociedade e os governos mais transparentes.
Ditadura nunca mais, nem na Venezuela nem no Brasil