segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019


Os militares 
e a política

Na foto ao lado, de 1998, autografo com prazer um exemplar do livro de charges “Pittadas de Maluf” para Salomão Malina, herói da FEB durante a II Guerra Mundial.

Malina combateu como oficial na Itália e ajudou a derrotar o fascismo de Benito Mussolini. Foi condecorado com a Cruz de Combate de Primeira Classe, a maior condecoração de guerra do Exército Brasileiro, por atos de bravura.

Filho de imigrantes poloneses e ainda muito jovem ligado ao PCB, foi convocado pelo Exército e por sua dupla condição de judeu e comunista se sentiu na obrigação de ir para a guerra.

De volta ao Brasil, pouco tempo depois foi para a reserva e se dedicou à militância política. Com a cassação do PCB em 1947 e diante da repressão que se abateu sobre seus militantes, Malina viveu parte de sua vida na clandestinidade.

Foi um dos encarregados do Comitê Central para o setor militar, pelo qual o partido se organizou em compartimentos, de soldados e sargentos até generais comunistas.

Em seu livro de memórias (1), Malina lembra que a mais exitosa luta do setor militar do PCB foi a campanha do Petróleo é Nosso e que resultou na criação da Petrobras em 1954. Um dos maiores líderes da campanha foi o general Leônidas Cardoso, pai do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, à época ambos vinculados ao partido.

Depois do golpe de Estado de 1964, Malina continuou o seu trabalho no setor militar na mais estrita clandestinidade. Morreu em 2002 aos 80 anos de idade sem revelar o nome de qualquer oficial das Forças Armadas que tivesse tido contato com o PCB.

Malina foi o último secretário-geral do Partidão antes da mudança de nome para PPS em 1992, partido ao qual continuou filiado.

Escrevo este comentário ao sentir em certos setores políticos preconceitos em relação ao militares, na falsa crença de que há uma posição política única entre eles e de que todos seriam reacionários de direita.

Ora, assim como qualquer cidadão, os militares se dividem entre as diversas correntes de opinião política existentes na sociedade. E, quando na ativa, assim como membros de outras carreiras de Estado, como diplomatas, magistrados e promotores, não devem exercer atividade partidária pública. Uma vez na reserva, estão livres para exercer qualquer função pública.

É importante não confundir as Forças Armadas, instituição, com os militares que fazem parte do governo Bolsonaro. Nem todos os militares, da ativa ou da reserva, no governo ou fora dele, são bolsonaristas.

E os que fazem parte da atual administração federal têm demonstrado não ser o setor mais atrasado do governo. Eles têm agido, grosso modo, com lucidez e moderação, como no caso da presente crise da Venezuela, contrários à intervenção militar no país vizinho, como quer a extrema-direita bolsonarista representada pelo chanceler Ernesto Araújo.

Com sua visão estratégica de longo prazo, esses militares podem ser a espinha dorsal do governo de Bolsonaro, sem base parlamentar definida e cujo partido do presidente, o PSL, é uma geleia que não fica de pé. Eles podem salvar o governo e o país de uma grave crise política-institucional, cuja consequência seria jogar o Brasil em mais outra grave crise econômica e social.

--> O importante é que, como qualquer cidadão, todos os militares permanecem no estrito cumprimento da Constituição democrática de 1988. Assim, o Brasil sairá fortalecido da crise e em boas condições de dialogar com outras Nações, condizente com sua posição de oitava economia do mundo.

NOTA

(1) O Último Secretário – A luta de Salomão Malina. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira. 2002

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Eleição da mesa diretora da Câmara

O PT, maior partido de oposição, com 55 deputados, não conseguiu unir e liderar uma frente ampla dos partidos democráticos para a eleição da mesa diretora da Câmara dos Deputados.

O partido rompeu o diálogo com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), cuja eleição à presidência da Câmara apoiou em 2016.

2016

Em 2016, após a prisão do então presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nova eleição foi realizada e Maia foi eleito para um mandato tampão com apoio de um amplo espectro de partidos, indo do PT e PCdoB, passando pelo PSB, PDT, PPS, Rede e chegando ao PSDB e PMDB.

Maia derrotou Rogério Rosso (PSD-DF), o candidato apoiado pelo Centrão, bloco conservador e fisiológico.

2017

Em fevereiro de 2017, Maia foi reeleito e derrotou Jovair Arantes (PTB-GO), também candidato apoiado pelo Centrão. Dessa vez, o PT apoiou André Figueiredo (PDT-CE).

2019

Os petistas romperam com Maia depois que o deputado conseguiu o apoio do PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro.

O PT tentou articular um bloco com PP, MDB e PTB e lançar Arthur Lira (PP-AL), mas a articulação fracassou.

Aliados tradicionais como PCdoB e PDT decidiram apoiar Maia e o PSB lançou candidato próprio, João Henrique Caldas (PSB-AL).

Outros partidos da centro-esquerda e do centro, como PPS, PV e PSDB, declararam apoio a Maia.

Porém, por fim, Lira desistiu depois que o seu partido resolveu apoiar Maia.

Vale lembrar que PP, MDB e PTB apoiaram Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial. Seria pouco provável que o deputado do PP representasse um avanço político na comparação com o candidato do DEM.

Ao final, o PT fechou um bloco com PSB, PSOL e Rede na tentativa de sair do isolamento e obter cargos na mesa diretora.

2015

Na eleição de 2015, o PT sofreu uma amarga derrota ao lançar o nome do deputado Arlindo Chinaglia, que teve o apoio da presidente Dilma Rousseff, do PDT e do PCdoB, ficando em 2º lugar, com 136 votos.

Já os demais partidos governistas, capitaneados pelo PMDB, foram vitoriosos com o deputado Eduardo Cunha tendo o apoio do PP, PTB, PSD, PR, PRB e do oposicionista DEM. Cunha obteve 267 dos votos.

A oposição de centro-esquerda lançou o nome do deputado Júlio Delgado, do PSB, apoiado pelo PPS, PV, Rede e pelo centrista PSDB. Delgado ficou em terceiro com 100 votos.

A pequena oposição de esquerda, representada pelo deputado Chico Alencar, do PSOL, obteve 8 votos.

Hoje

As eleições para as mesas diretoras da Câmara e do Senado podem representar um importante contrapeso do Congresso a qualquer tentação autoritária do Executivo capitaneado por Bolsonaro. Acompanhemos os resultados.

Cláudio de Oliveira, jornalista e chargista do jornal Agora São Paulo.

Autor do e-book de ensaios políticos
LENIN, MARTOV, A REVOLUÇÃO RUSSA E O BRASIL
https://amzn.to/2MI7iGP
LENIN, MARTOV Y LA REVOLUCIÓN RUSA
https://amzn.to/2Sa0FSP
LENIN, MARTOV AND THE RUSSIAN REVOLUTION
https://amzn.to/2MOjZzX

Autor dos e-books de cartuns políticos:
COMO ESTOU DIRIGINDO?
https://amzn.to/2MIeHpj
MENSALÃO, RIR PRA NÃO CHORAR
https://amzn.to/2Giw8vN
HUMOR DO IMPEACHMENT
https://amzn.to/2CYsyn9
O CARA E A COROA
https://amzn.to/2HGl3GV
PAU E CIRCO
https://amzn.to/2Tmth8D
DURA LEX NO TRÍPLEX