segunda-feira, 18 de março de 2019




Reflexões sobre Brumadinho
A tragédia de Brumadinho revela 1) a crise de financiamento do Estado brasileiro e 2) a captura do Estado por grupos de interesse. Vejamos:

1) A crise de financiamento do Estado brasileiro

Quando o déficit público explodiu, nos levando à recessão de 2014-2017, assistimos a uma forte deterioração dos serviços públicos. 

O corte de gastos atingiu todas áreas na União, estados e municípios.

Em São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, em fins de 2016, a Prefeitura promoveu cortes no programa Leve Leite e suspendeu contratos com empresas de segurança dos parques públicos.

A crise foi especialmente visível no Rio de Janeiro. Mas, no meu Rio Grande do Norte, durante a greve de policiais, noticiou-se a falta de combustível para viaturas.

O RN gasta 74% do orçamento com salários e aposentadorias, muito acima dos 60% estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Quanto aos serviços de fiscalização do governo federal, os dados apresentados pela Folha de São Paulo não deixam dúvidas sobre a precariedade do setor:

“Há 4.510 barragens [...] e 41 órgãos com jurisdição sobre elas, mas somente 33 fazem alguma fiscalização. Meros 154 funcionários estão disponíveis para isso, e muitos deles acumulam outras atividades. No ano passado, nada mais que 3 a cada 100 desses reservatórios foram de fato visitados.” (1)

2) A captura do Estado por grupos de interesse

Na sua edição de hoje (10/02/2019), a Folha traz reportagem na qual diz que o “comando de agência de mineração tem ex-funcionário da Vale e políticos do setor”. (2)

Em 2015, foi noticiado que o “governo dá posse a um representante do setor privado como diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar”. (3)

Ou seja, as agências reguladoras, criadas para fiscalizar as empresas privadas, foram alvos de barganha político-partidária e submetida aos lobbies das empresas.

Resolver a crise fiscal e fortalecer o papel fiscalizador e regulador do poder público são questões fundamentais.

Requer a democratização do Estado brasileiro, inclusive das agências reguladoras, de modo a torná-las defensoras do interesse público e resistentes aos lobbies dos grupos econômicos.

NOTAS

(1) Mais um desastre.
(2) Comando de agência de mineração tem ex-funcionário da Vale e políticos do setor.
(3) Governo dá posse a um representante do setor privado como diretor-presidente da ANS
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