sexta-feira, 11 de janeiro de 2019


Socialismo autoritário e socialismo democrático




Passei a ter cautela com o “socialismo bolivariano” da Venezuela em 2007, quando o Partido Comunista e o Podemos (sigla do Por la Democracia Social, de tendência social-democrata) soltaram notas independentes em que refutavam as pressões de Hugo Chávez para que as duas agremiações se dissolvessem e se juntassem ao recém-criado Partido Socialista Unido da Venezuela.

Os líderes do Podemos também criticavam Chávez por propor reformas da própria Constituição chavista, promulgada pouco tempo antes. Esses social-democratas, inicialmente aliados do presidente, romperam com o governo e foram para a oposição. Em 2012, o Podemos sofreu intervenção da Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça e passou a ser dominado por uma ala pró-Chávez.

Por aquela época, havia lido declarações de Chávez de que a Venezuela se inspirava em Cuba. Esta, por sua vez, mimetizou o socialismo de partido único da União Soviética. Como se sabe, o modelo soviético se esgotou na década de 1980 e desapareceu do leste da Europa a partir de 1989.

O socialismo soviético foi um experimento autoritário que teve início com a tomada de poder pelos bolcheviques em outubro de 1917, sob a liderança de Vladimir Lênin e Leon Trotsky. Os dois refutaram a proposta do menchevique Julius Martov de formar um governo pluripartidário de todas as correntes socialistas da Rússia.

Lênin e Trotsky implantaram uma ditadura de partido único após o fechamento da Constituinte de 1918, levando o país a uma guerra civil. Estatizaram todos os meios de produção, acarretando a desorganização da economia e a fome que, com a seca do Rio Volga, causou a morte de cerca de cinco milhões de pessoas em 1921.

Foi quando então Lênin recuou da estatização total e adotou a NEP (Nova Política Econômica), de economia mista, como propunha os social-democratas russos liderados por Martov. As ideias martovistas de aceitação da democracia parlamentar, de economia mista e de Estado do Bem-Estar Social influenciaram posteriormente a social-democracia da Suécia, vitoriosa na eleição de 1932.

Em 1928, Josef Stalin abandonou a NEP e voltou a estatizar toda a economia. Na década de 1930, fuzilou não só os líderes remanescente do Partido Operário Social Democrata Russo, bem como os comunistas que defendiam a economia mista, como o ex-ministro da Economia, Nikolai Bukharin.

O modelo sueco foi uma bem sucedida experiência socialdemocrata que se disseminou em diferentes graus pela Europa ocidental do pós-Guerra. Talvez as diferentes correntes da esquerda latino-americana devessem se inspirar nela. E não no modelo stalinista de Cuba e da URSS.

Mais sobre o tema:
Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil