Socialismo autoritário e socialismo democrático
Passei a
ter cautela com o “socialismo bolivariano” da Venezuela em 2007, quando o
Partido Comunista e o Podemos (sigla do Por la Democracia Social, de tendência
social-democrata) soltaram notas independentes em que refutavam as pressões de Hugo
Chávez para que as duas agremiações se dissolvessem e se juntassem ao
recém-criado Partido Socialista Unido da Venezuela.
Os
líderes do Podemos também criticavam Chávez por propor reformas da própria
Constituição chavista, promulgada pouco tempo antes. Esses social-democratas,
inicialmente aliados do presidente, romperam com o governo e foram para a
oposição. Em 2012, o Podemos sofreu intervenção da Câmara Eleitoral do Supremo
Tribunal de Justiça e passou a ser dominado por uma ala pró-Chávez.
Por
aquela época, havia lido declarações de Chávez de que a Venezuela se inspirava
em Cuba. Esta, por sua vez, mimetizou o socialismo de partido único da União
Soviética. Como se sabe, o modelo soviético se esgotou na década de 1980 e
desapareceu do leste da Europa a partir de 1989.
O
socialismo soviético foi um experimento autoritário que teve início com a
tomada de poder pelos bolcheviques em outubro de 1917, sob a liderança de
Vladimir Lênin e Leon Trotsky. Os dois refutaram a proposta do menchevique
Julius Martov de formar um governo pluripartidário de todas as correntes
socialistas da Rússia.
Lênin e
Trotsky implantaram uma ditadura de partido único após o fechamento da
Constituinte de 1918, levando o país a uma guerra civil. Estatizaram todos os
meios de produção, acarretando a desorganização da economia e a fome que, com a
seca do Rio Volga, causou a morte de cerca de cinco milhões de pessoas em 1921.
Foi
quando então Lênin recuou da estatização total e adotou a NEP (Nova Política
Econômica), de economia mista, como propunha os social-democratas russos
liderados por Martov. As ideias martovistas de aceitação da democracia
parlamentar, de economia mista e de Estado do Bem-Estar Social influenciaram
posteriormente a social-democracia da Suécia, vitoriosa na eleição de 1932.
Em 1928,
Josef Stalin abandonou a NEP e voltou a estatizar toda a economia. Na década de
1930, fuzilou não só os líderes remanescente do Partido Operário Social Democrata
Russo, bem como os comunistas que defendiam a economia mista, como o
ex-ministro da Economia, Nikolai Bukharin.
O modelo
sueco foi uma bem sucedida experiência socialdemocrata que se disseminou em
diferentes graus pela Europa ocidental do pós-Guerra. Talvez as diferentes correntes
da esquerda latino-americana devessem se inspirar nela. E não no modelo
stalinista de Cuba e da URSS.
Mais
sobre o tema:
Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil