domingo, 10 de junho de 2018


SETE GOLS DA ALEMANHA
(e quatro gols contras)

Os gols da Alemanha:

Gol 1 – A fundação do Partido Social-Democrata Alemão em 1863

Ainda no século XIX, o SPD adotou posições de esquerda moderada, democrática e reformista. Desde então, tem sido um dos principais apoios à democracia e ao bem-estar na Alemanha.

Gol 2 – A primeira Previdência pública do mundo em 1883

Para conter o crescimento do SPD, o primeiro-ministro conservador Otto Von Bismarck adotou o “socialismo sem os socialistas”. Em 1878 proibiu o SPD e aprovou as primeiras leis de seguridade social do mundo: Lei do Seguro Doença (1883); Lei do Seguro contra Acidente do Trabalho (1884); Lei do Seguro Invalidez e Velhice (1889). Em 1890, a proibição ao SPD foi revogada.

Gol 3 - A Constituição de Weimar em 1919

O SPD, em aliança com partidos centristas, chegou ao poder em 1918 e aprovou a primeira Constituição da Europa a consagrar direitos sociais.

Gol 4 – O diálogo político e social da União Democrata Cristã em 1949

Com o fim do nazismo, a CDU venceu as eleições. O primeiro-ministro Konrad Adenauer dialogou com o SPD e outros partidos para instituir um Estado democrático de bem-estar social no país. Acordos entre sindicatos patronais e de trabalhadores foram realizados, gerando estabilidade para o “milagre alemão”, de reconstrução e prosperidade econômica e social.

Gol 5 - As bases da União Europeia em 1951

Mesmo aliada aos Estados Unidos contra a União Soviética, a Alemanha Ocidental procurou a França para uma atuação autônoma da Europa. Foi criada em 1951 a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Tal acordo lançou as bases da União Europeia de hoje, fator de estabilidade democrática do continente.

Gol 6 – O diálogo com o Leste em 1969

O primeiro-ministro Willy Brandt, do SPD, iniciou uma política de diálogo com os países comunistas, especialmente as vizinhas Alemanha Oriental e Polônia, diminuindo as tensões da Guerra Fria. Brandt ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1971.

Gol 7 - A fundação do Partido Verde em 1980

O PV alemão surgiu a partir do movimento pacifista contrário a usinas e armas nucleares. Contribuiu para desenvolver uma consciência ecológica na Alemanha. Em 2007, o país superou antecipadamente a sua meta de redução de gases do efeito estufa definida pelo Protocolo de Kyoto de 1997. O país é um dos pioneiros no uso de energias renováveis.

Os gols contras da Alemanha:

Gol contra 1 - O SPD votou pela guerra em 1914

O SPD cedeu ao nacionalismo que as elites europeias insuflaram na população na disputa colonialista. A ala majoritaria do partido aprovou os créditos governamentais para promover a guerra.

Gol contra 2 – A hiperinflação em 1923

O governo alemão imprimiu dinheiro sem contenção para fazer frente às reparações de guerra e às despesas públicas, causando a histórica hiperinflação de 1923. Nasceu daí a preocupação dos alemães em conter o gasto público e manter as contas públicas equilibradas.

Gol contra 3 - A vitória do nazismo em 1933

O Partido Comunista Alemão era um forte partido de extrema-esquerda. Negou-se a formar um governo com o SPD e os partidos de centro em 1932. Com a divisão, Adolfo Hiltler, de extema-direita, foi escolhido primeiro-ministro em janeiro de 1933.

Gol contra 4 - A divisão da Alemanha em 1949

Com a Guerra Fria, a Alemanha foi dividida em duas. No lado oriental foi implantado um regime comunista autoritário, cuja política econômica atrasou o país em relação ao lado ocidental. Após a queda do Muro de Berlim em 1989, a Alemanha foi reunificada.



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Texto provocação

Escrevi algumas linhas com o objetivo de suscitar a reflexão e o debate. Ei-las:

1 - Bolsonaro, o Collor de farda?

Seria Bolsonaro um Fernando Collor de farda?

Autoritário quando presidente da República, Collor foi incapaz de dialogar como o Congresso e a sociedade. Levou seu governo a seguidos impasses.

Tentou uma política econômica sem negociar com a sociedade e sem considerar a realidade social. Levou o Brasil a uma das maiores crises econômicas da história.

Apesar da retórica moralizante, sofreu um impeachment por corrupção.

2 - Marina, o Lula de saia?

Críticos dizem que Marina seria um Lula de saia. Isto é, seu programa econômico seria populista como o do petista. Lula teria sobrecarregado o Estado sem atacar as causas estruturais de nossos problemas.

Críticos à esquerda dizem que Marina virou liberal, pois seu programa econômico favoreceria ao mercado e não ao social.

Talvez Marina esteja no ponto médio entre as duas opiniões.

3 - Ciro, a Dilma de calças?

Críticos à direita dizem que Ciro teria um temperamento que também o faria incapaz de dialogar com o Congresso e a sociedade.

Suas propostas econômicas seriam iguais às de Dilma, um intervencionismo nacional-desenvolvimentista inadequado à economia globalizada, cujo resultado foi um não-desenvolvimentismo.

Dilma entregou o país com uma das maiores crises econômicas de nossa história.

Críticos à esquerda dizem que Ciro teria uma retórica esquerdista, mas no governo faria uma política econômica liberal.

Essa manobra não deu certo no segundo mandato de Dilma. Ela foi acusada de estelionato eleitoral.

Quem teria razão?

4 – Alckmin, o FHC de botinas?

Críticos dizem que Alckmin seria um Fernando Henrique caipira, sem capacidade de liderar.

Críticos à esquerda dizem que seu programa econômico seria igual ao de FHC, privatista e pouco social.

FHC também entregou o país em crise.

O PSDB argumenta que, apesar disso, ele realizou reformas estruturais importantes para a retomada do crescimento, sem o que não seria possível políticas distributivas. E que Alckmin faria o mesmo.


5 – Haddad, um Palocci de bike?

Partidários de Haddad dizem que, quando prefeito, ele administrou são Paulo com responsabilidade fiscal. Até propôs uma reforma da Previdência dos servidores municipais. Teve bom diálogo com o tucano Alckmin, então governador. Assim como Palocci, primeiro ministro da Fazenda de Lula.

Seus críticos dizem que, a julgar pelas diretrizes do programa do PT para a eleição de 2018, Haddad estaria mais para a política econômica de Dilma.

Quem está enganado?

6 - Conclusão

Como cartunista, acompanho os governos desde 1977. Descobri que não há milagres como os de Delfim; nem mágicas como as do Plano Cruzado de Sarney; nem bala de prata como a de Collor; nem truques com o dólar como o de FHC; nem artifícios como a contabilidade criativa de Dilma.

Descobri também que política econômica é menos uma questão de vontade e mais de opção dentro das imposições da realidade.

Vamos ver se em 2018, em um debate sereno e sem mistificação de marketing surja um projeto capaz de promover consensos e nos livrar do voo de galinha.

Cláudio de Oliveira.

segunda-feira, 4 de junho de 2018















Itália, Alemanha e Brasil

Em 2013, fui com a família visitar os países dos antepassados da minha mulher Eldi Willms, Alemanha e Polônia. De quebra, demos uma pulo na República Tcheca, onde estudei de 1989 a 1992.

Na fila para visitar o campo de concentração de Auschwitz, um casal de italianos sentava o pau em Angela Merkel, a primeira-ministra alemã.

Era época de crise fiscal no sul da Europa: a dívida pública explodiu nos “PIIGS”: Portugal, Itália, Irlanda*, Grécia e Espanha.

Alguns líderes daqueles países pediam o relaxamento das regras da União Europeia e recebiam um sonoro “Nein” da Frau Merkel.

Em Berlim, contei a história a um casal de amigos, sendo ele um alemão. Ele riu.

O meu amigo berlinense disse-me que o alemão ganha mais que o italiano, porém paga mais impostos e tem serviços públicos de melhor qualidade.

E que os políticos italianos não tinham capacidade para convencer os seus eleitores a pagar mais impostos.

Na Itália, como no Brasil, há setores que não querem pagar impostos e adoram mamar nas tetas do Estado.

Foi um governo de centro-esquerda, formado pelo Partido Social Democrata e pelos Verdes, que realizou as reformas social-trabalhista e previdenciária na Alemanha.

A Alemanha atuou nas duas pontas: manteve a arrecadação e adaptou o gasto público às novas realidade do país e do mundo globalizado.

As reformas empreendidas pelo primeiro-ministro Gerhard Schröder, de 1998 a 2005, causaram controvérsias e um racha no seu próprio partido.

Seu defensores dizem que elas prepararam a Alemanha para o crescimento econômico que se verificou posteriormente. O país tem uma baixa taxa de desemprego e estabilidade econômica. É um forte pilar da UE.

Seus críticos à esquerda apontam o outro lado da moeda: a precarização da força de trabalho. Talvez ambos os lados tenham razão e seja preciso uma solução para o problema apontado principalmente pelos sindicatos.

O Emmanuel Macron da Itália, o jovem Matteo Renzi, primeiro-ministro de 2014 a 2016, do Partido Democrático, também de centro-esquerda, tentou realizar reformas no país, mas não obteve o mesmo consenso que o seu colega alemão.

E a Itália continua a viver suas dificuldades políticas e econômicas.

Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista, autor do livro “Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil”.

goo.gl/GBKseb

* A Irlanda está ao norte do Velho Continente.

Na foto, o social-democrata Gerhard Schröder, do SPD, e Joseph "Joschka" Fischer, dos Verdes, a chamada “Aliança Verde-Vermelha” que governou a Alemanha de 1998 a 2005.