Os militares
e a
política
Na foto ao lado, de 1998,
autografo com prazer um exemplar do livro de charges “Pittadas de Maluf” para
Salomão Malina, herói da FEB durante a II Guerra Mundial.
Malina combateu como
oficial na Itália e ajudou a derrotar o fascismo de Benito Mussolini. Foi
condecorado com a Cruz de Combate de Primeira Classe, a maior condecoração de
guerra do Exército Brasileiro, por atos de bravura.
Filho de imigrantes
poloneses e ainda muito jovem ligado ao PCB, foi convocado pelo Exército e por
sua dupla condição de judeu e comunista se sentiu na obrigação de ir para a
guerra.
De volta ao Brasil,
pouco tempo depois foi para a reserva e se dedicou à militância política. Com a
cassação do PCB em 1947 e diante da repressão que se abateu sobre seus
militantes, Malina viveu parte de sua vida na clandestinidade.
Foi um dos encarregados
do Comitê Central para o setor militar, pelo qual o partido se organizou em
compartimentos, de soldados e sargentos até generais comunistas.
Em seu livro de memórias
(1), Malina lembra que a mais exitosa luta do setor militar do PCB foi a
campanha do Petróleo é Nosso e que resultou na criação da Petrobras em 1954. Um
dos maiores líderes da campanha foi o general Leônidas Cardoso, pai do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, à época ambos vinculados ao partido.
Depois do golpe de
Estado de 1964, Malina continuou o seu trabalho no setor militar na mais
estrita clandestinidade. Morreu em 2002 aos 80 anos de idade sem revelar o nome
de qualquer oficial das Forças Armadas que tivesse tido contato com o PCB.
Malina foi o último
secretário-geral do Partidão antes da mudança de nome para PPS em 1992, partido
ao qual continuou filiado.
Escrevo este comentário
ao sentir em certos setores políticos preconceitos em relação ao militares, na
falsa crença de que há uma posição política única entre eles e de que todos
seriam reacionários de direita.
Ora, assim como qualquer
cidadão, os militares se dividem entre as diversas correntes de opinião
política existentes na sociedade. E, quando na ativa, assim como membros de
outras carreiras de Estado, como diplomatas, magistrados e promotores, não
devem exercer atividade partidária pública. Uma vez na reserva, estão livres
para exercer qualquer função pública.
É importante não
confundir as Forças Armadas, instituição, com os militares que fazem parte do
governo Bolsonaro. Nem todos os militares, da ativa ou da reserva, no governo
ou fora dele, são bolsonaristas.
E os que fazem parte da
atual administração federal têm demonstrado não ser o setor mais atrasado do
governo. Eles têm agido, grosso modo, com lucidez e moderação, como no caso da
presente crise da Venezuela, contrários à intervenção militar no país vizinho,
como quer a extrema-direita bolsonarista representada pelo chanceler Ernesto
Araújo.
Com sua visão
estratégica de longo prazo, esses militares podem ser a espinha dorsal do
governo de Bolsonaro, sem base parlamentar definida e cujo partido do
presidente, o PSL, é uma geleia que não fica de pé. Eles podem salvar o governo
e o país de uma grave crise política-institucional, cuja consequência seria
jogar o Brasil em mais outra grave crise econômica e social.
NOTA
(1) O
Último Secretário – A luta de Salomão Malina. Brasília: Fundação Astrojildo
Pereira. 2002
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