Leitura obrigatória sobre 1964:
San Tiago Dantas
Peço aos
meus amigos a leitura do livro “Em busca da esquerda esquecida: San Tiago
Dantas e a Frente Progressista”. (1)
Uma bela
obra sobre San Tiago Dantas (PTB), ministro da Fazenda do governo João Goulart,
e seu esforço para resolver a crise que antecedeu o golpe de 1964.
Destaco
três questões discutidas no livro:
1 – A solução parlamentarista
San Tiago
Dantas foi um dos articuladores da implantação do parlamentarismo como solução
para contornar o veto das forças armadas à posse do vice-presidente João
Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961.
O
parlamentarismo não teve apoio dos três principais candidatos na eleição à
Presidência da República marcada para 1965: Juscelino Kubistchek (PSD), Carlos
Lacerda (UDN) e Leonel Brizola (PTB). O sistema parlamentar foi derrubado por
um plebiscito.
Segundo o
deputado Francisco Julião (PSB), “se o regime tivesse continuado
parlamentarista, é possível que se houvesse evitado o golpe militar. Aliás,
continuo parlamentarista até hoje, por convicção”. (2)
2 - O Plano Trienal
San Tiago
Dantas apresentou juntamente com o ministro do Planejamento, o economista Celso
Furtado, o Plano Trienal.
O plano,
segundo o livro, tinha o “objetivo de estabelecer regras e instrumentos rígidos
para o controle do déficit público e o combate à inflação sem comprometer o
desenvolvimento econômico”.
O PIB havia
caído de 7,7% em 1961 para 3,5% em 1962 e a inflação chegara a 50,1%.
As
medidas foram bombardeadas tanto por representantes dos empresários como dos
trabalhadores.
3- A Frente Progressista
Apoiado
pelo PTB, PSB e deputados ligados ao ilegal PCB, minoritários no Congresso, Goulart
incumbiu Dantas de ampliar a base de apoio do governo ao buscar um acordo de
reformas moderadas
com o centrista PSD,
detentor da maior bancada na Câmara de Deputados.
A
proposta da Frente Progressista foi torpedeada por setores majoritários da
esquerda, que defendiam um programa de reformas que não tinha apoio da maioria
dos parlamentares.
O Brasil
caminhou para uma perigosa radicalização política. De um lado, a esquerda que
chegou a propor soluções “extraparlamentares” (3), o fechamento do Congresso e
a convocação de uma Constituinte. De outro, a direita que pedia a derrubada de
Goulart. Esta última prevaleceu em 31 de março de 1964. A voz ponderada de San
Tiago Dantas foi esquecida. Nos tempos de hoje, convém lembrá-la pela leitura
do livro.
NOTAS
(1) Gabriel
da Fonseca Onofre. Em busca da esquerda esquecida: San Tiago Dantas e a Frente
Progressista. Curitiba: Prismas, 2015. 236p.
(2) Dênis
de Moraes. A Esquerda e o Golpe de 64. Rio de Janriro: Editora Espaço Tempo,
1989.
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