quarta-feira, 28 de novembro de 2018


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O verdadeiro “perigo vermelho”

A charge acima publiquei no carnaval de 1987, em 27 de fevereiro, no jornal natalense Tribuna do Norte.

Nela aparecem os presidentes José Sarney (Brasil), Raúl Alfonsin (Argentina), Miguel de la Madrid (México) e Alan Garcia (Peru).

Ela mostra o verdadeiro “perigo vermelho”: as contas públicas dos países da URSAL, União das Repúblicas Socialistas da América Latina, nos quais os lucros são privados e os prejuízos socializados.

Vamos aos fatos históricos:

1- O crescimento do início da década de 1970 foi financiado por empréstimos externos, com investimentos em infraestrutura e subsídios às grandes empresas;

2- O “milagre econômico” teve fim com a crise do petróleo e o aumento dos juros internacionais, provocando a explosão da dívida externas dos países da AL;

3- O Brasil quebrou em 1981 (1), com dívida externa, contas públicas arrebentadas, inflação e recessão;

4- Com o fim da ditadura, o novo governo tentou organizar as contas públicas, mas o presidente Sarney se negou a promover o ajuste e o Plano Cruzado naufragou;

5- Faltou dinheiro para pagar os juros da dívida externa em 1987;

6- Fernando Collor chegou e bagunçou mais o coreto;

7- Veio Itamar Franco e começou a por ordem na casa, promovendo ajustes, políticas compensatórias e outras de estímulo, com relativo êxito;

8- Fernando Henrique continuou o ajuste, porém:

a) Demorou a desvalorizar o real ante o dólar, trazendo problemas com o balanço de pagamentos;

b) Foi prejudicado pela crise das moedas dos emergentes;

c) Não conseguiu aprovar a reforma da Previdência em 1998;

9 – Lula promoveu ajustes na gestão Palocci, aprovou a reforma da Previdência do setor público em 2003, porém não regulamentou o teto para os salários do funcionalismo;

10 – No segundo mandato, com a bonança internacional e o boom das exportações para a China, o problema ficou na sombra e houve afrouxamento das contas públicas; (2)

11- Com a crise das hipotecas nos EUA em 2008 e a recessão mundial, o problema das contas volta a aparecer; (3)

12 – O Brasil só fechou no azul a partir de 2009 graças a receitas extraordinárias e à postergação de pagamentos do governo para o ano fiscal seguinte;

13 – A partir de 2014, o Brasil passou a fechar no vermelho;

14 – E aqui estamos, com aumentos salariais à elite dos servidores, fazendo crescer o nosso verdadeiro “perigo vermelho”;

Já a “ameaça comunista” é distração para manter os militantes de direita e de esquerda entretidos nas redes sociais.

NOTAS

(1) Segundo a jornalista Claudia Safatle, ainda vivemos as consequências da crise dos anos 1980. Este texto é muito interessante:
A mãe de todas as crises do Brasil

 (2) Palocci defendia o déficit nominal zero com um teto para os gastos públicos, mas foi derrotado pelo PT e Dilma Rousseff:
Para Palocci, crise favorece discussão de déficit zero

(3) O problema do aumento da dívida pública já estava colocado na campanha de 2010:
Governo Dilma projeta política fiscal mais dura.
Valor Econômico. 29/10/2010.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018


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Planilha para julgar o governo Bolsonaro

Preparei uma planilha para meu julgamento do governo Bolsonaro, com itens que considero fundamentais, pela ordem de importância:

1 –  Política

Que medidas tomará para fortalecer a democracia contra a corrupção?

1.1 - Fortalecer as instituições da Operação Lava Jato:

a)  Poder Judiciário independente e respeito ao Supremo Federal Tribunal.

b) Ministério Público autônomo com poder de investigação.

1.2 - Democratização do Executivo com governo transparente.

1.3 - Respeito à independência do Congresso e ação para fortalecer os partidos.

1.4 – Respeito à sociedade civil

Respeito às instituições da sociedade e à liberdade de imprensa

2 - Economia

Que medidas tomará para desenvolver a economia, combater a pobreza e garantir a sustentabilidade ambiental?

3 – Social

Que medidas tomará para melhorar os serviços públicos de educação, saúde,  segurança, transporte e cultura?  Que medidas tomará para facilitar o acesso à moradia?

4 – Guerra cultural

Que medidas tomará para garantir as liberdades civis e o respeito às minorias, não só as de raça, gênero, como também as minorias religiosas cristãs e não-cristãs, como judeus, muçulmanos, budistas e cultos afros?

Ao promover medidas favoráveis aos itens acima, o governo ganhará um ponto positivo. Contrárias, ganhará um ponto negativo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018


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Escola laica e democrática

Sobre a tal “doutrinação marxista” que grupos de direita dizem existir no Brasil, lembrei-me do tempo em que estudei na Universidade Carlos, na então Tchecoslováquia, de 1989 a 1992.

Aulas de marxismo-leninismo

O Estado comunista não era laico, pois possuía uma doutrina oficial de Estado, o marxismo-leninismo, disciplina obrigatória nas universidades.

Deixei o país sem conhecer um estudante tcheco ou eslovaco que defendesse o regime. A realidade se impôs aos dogmas. A insatisfação dos tchecoslovacos com a falta de liberdade e com a estagnação econômica do país era generalizada.

O regime caiu em novembro de 1989, a democracia foi restabelecida, o país dividiu-se pacificamente em dois, República Tcheca e Eslováquia.

Ambos entraram na União Europeia, integrando-se à paisagem política predominante na Europa, com um forte partido democrático-liberal se alternando no poder com um forte partido socialdemocrata.

A “doutrinação marxista” no Brasil

Se a tal “doutrinação marxista” nas universidades brasileiras fizesse efeito, o vencedor da última eleição teria sido o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que obteve 0,58%.

Como se sabe, vários diretores da ANDES são vinculados ao PSOL e ao PSTU, de extrema-esquerda.

Acho que a escola deve ser democrática, laica, crítica e pluralista, na qual os professores possam expressar suas convicções políticas e até partidárias.

Pluralismo

Como também devem propiciar aos seus alunos o conhecimento da pluralidade das correntes de opinião existentes na sociedade e deixar ao livre arbítrio dos estudantes suas escolhas partidárias.

sábado, 10 de novembro de 2018


100 anos da Proclamação
da República
de Weimar

Há um século, em 9 de novembro de 1918, era proclamada a República na Alemanha e aberto o período histórico conhecido como República de Weimar.

Em fevereiro de 1919, realizou-se eleições à Assembleia Constituinte e em novembro foi promulgada a Constituição de Weimar, a primeira constituição democrática da Europa a estabelecer direitos sociais.

A República de Weimar terminou em março de 1933, quando o parlamento aprovou o ato de plenos poderes para Adolfo Hitler, líder do Partido Nazista nomeado primeiro-ministro em janeiro daquele ano.

Do período, há cinco pontos fundamentais a destacar:

1- O nacionalismo das potências europeias

As consequências nefastas do nacionalismo que havia levado a Europa à I Guerra Mundial. As pesadas reparações exigidas pela França impediram a recuperação da Alemanha.

2- A política social do período

3- A hiperinflação de 1923

A hiperinflação de 1923 chegou em outubro a 29.500%.

Em seis meses a economia alemã foi estabilizada, após o início do Plano Helferich, do economista Hjalmar Schacht. (1)

4- A crise de 1929

A quebra da bolsa de Nova York em 1929, que levou a economia da Alemanha à Grande Depressão, com milhões de desempregados, e abriu as portas para a ascensão do nazismo.

5- A divisão da esquerda alemã

A esquerda alemã dividiu-se em duas alas irreconciliáveis.

De um lado, o moderado Partido Socialdemocrata da Alemanha, defensor de uma democracia parlamentar e de uma aliança com o partidos centristas Centro Católico e o Partido Democrático da Alemanha.

De outro, o radical Partido Comunista da Alemanha, defensor de uma república de conselhos nos moldes da vizinha União Soviética, respeitando-se, segundo líderes como Rosa Luxemburgo, o pluralismo e as liberdades.

Nas eleições de 1932, o SPD e seus aliados não conseguiram alcançar a maioria do parlamento. Precisavam dos comunistas para formar um governo. Sem o apoio do PC, persistiu o impasse. Então, o presidente da República,  o marechal Paul von Hindenburg, nomeiou Hitler primeiro-ministro, pondo fim ao período.

A trágica experiência da República de Weimar é rica em ensinamentos e, creio, deveria ser estudada por todos que amam a liberdade e a democracia. (2)

(1) Esse plano teria ajudado na elaboração do Plano Real, que derrubou a alta inflação brasileira.

(2) A divisão da esquerda mundial em socialdemocratas e comunistas é tema do e-book
Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil