Três maneiras básicas de governar
Vejo três
maneiras básicas de administrar um país, especialmente na sua esfera econômica:
o liberalismo, o comunismo e a socialdemocracia.
1- Liberalismo
O
liberalismo defende o mínimo de intervenção do governo na economia. Seu exemplo
clássico são os Estados Unidos.
Mas, após
a quebra de 1929, o governo teve de agir para tirar os país da crise, com obras
públicas, regulamentação do setor financeiro e criação de bancos públicos para
financiar a habitação.
Igualmente,
na crise de 2008, o governo agiu para salvar empresas e cidadãos da falência.
O Partido
Democrata quer ampliar as obrigações do governo, como o seguro saúde para os norte-americanos
pobres, derrubado por Donald Trump.
2- Comunismo
É o
extremo oposto do liberalismo. No comunismo, cujo exemplo clássico foi a União
Soviética, o governo é dono das empresas.
Em 1917,
o Partido Comunista estatizou toda a economia da Rússia. Mas, em 1921, foi
estabelecida uma economia mista, com empresas estatais, privadas, e mistas, de
capital estatal e estrangeiro. Em 1928, o PC voltou a estatizar a economia.
Na década
de 1980, o comunismo estatal entrou em estagnação até ruir sob o peso da baixa
produtividade e da insatisfação com o regime de partido único.
3- Socialdemocracia
Meio
termo entre liberalismo e comunismo, com setores estatal e privado. O exemplo
clássico é a Suécia, onde a partir de 1932 o Partido Social Democrata
estabeleceu economia mista, com forte tributação para financiar serviços
públicos, como saúde, educação e transportes.
Em
diferentes graus, esse foi o modelo que predominou na Europa Ocidental.
Entrou em
crise na década de 1980 pela alta despesa pública e pela globalização, quando
grandes empresas, para escapar dos impostos e dos fortes sindicatos,
transferiram parte da produção para a Ásia.
Algumas
reformas foram realizadas na Suécia, Reino Unido e Alemanha, diminuindo o gasto
público e a intervenção direta do governo na economia, agindo mais para regular
e tributar as empresas privadas.
Variações
Nesses
três modelos, há diferentes variações.
Na China,
a partir de 1978, os comunistas estabeleceram economia mista, de forte regulamentação
estatal e sem democracia pluripartidária.
Em 1976,
os comunistas italianos propuseram uma terceira via entre a socialdemocracia e
o comunismo.
Na década
de 1990, os trabalhistas britânicos propuseram uma terceira via entre a socialdemocracia
e o liberalismo.
Muitas
vezes, a realidade impõe que os governos tomem medidas sem estritas considerações
de ordem doutrinária. Foi o que aconteceu com a China. Sem capital e sem tecnologia,
depois do fracasso do modelo estatal de Mao Tsé Tung, o PC chinês foi obrigado a se adaptar à realidade.
Fascismo
Nas
décadas de 1930 e 1940, Itália e Alemanha foram governadas por ditaduras
fascistas, nas quais o governo foi usado para favorecer grandes empresas e
combater os sindicatos e os partidos de tendência social.
E o Brasil?
De 1930 a
1945, Getúlio Vargas estabeleceu economia mista, com empresas estatais de
infraestrutura subsidiando o setor privado.
O modelo tinha
inspiração fascista, pois Vargas governou grande parte do período com Congresso
e partidos fechados, imprensa sob censura e sindicatos sob controle estatal.
E a mesmo
tempo havia proteção social com o estabelecimento de legislação trabalhista.
O chamado
nacional-desenvolvimentismo foi ampliado no período democrático do pós-guerra e
na época dos militares (1964-1985), com abertura ao capital estrangeiro. E
permaneceu até hoje com diferentes graus de nacionalismo.
E o futuro?
Há quem
diga que tal modelo se esgotou em fins da década de 1970, com a explosão das
dívidas externa e interna retirando do governo capacidade de conduzir a
economia.
O Brasil
viveu os anos 1980 como a “década perdida” e desde então tem lutado contra a estagnação
e o baixo crescimento.
Há quem
analise que, com a globalização, o nacional-desenvolvimentismo leva o país ao
isolamento na economia mundial.
No mundo
inteiro, liberais defendem maior desregulamentação enquanto socialdemocratas
defendem maior regulamentação internacional da economia.
Setores
chamados de populistas querem ação dos governos para defender suas economias
nacionais contra a globalização, inclusive com o protecionismo. Há quem veja
nisso um retrocesso aos séculos XIX e XX.
De todo
modo, ao que parece, não há como escapar das três maneiras básicas de governar.
A diferença agora talvez seja cada vez mais o caráter supranacional da economia
e da política, com temas como o aquecimento global, que exige ação planetária.
Cláudio
de Oliveira, jornalista e cartunista