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Quem são as forças democráticas do Brasil?
Com a implantação do
regime ditatorial de 1964, qual era a tarefa que se impunha às forças
democráticas do Brasil? Certamente, restabelecer o regime democrático.
Mas, como realizar essa
tarefa? Unindo as forças democráticas em torno do objetivo comum de levar o país de volta ao
Estado de Direito. E quem eram as forças
democráticas do Brasil?
1- O PSD, partido
centrista de liberais como ex-presidente Juscelino Kubitschek e os deputados
Tancredo Neves e Ulisses Guimarães.
2- O PTB, partido de
centro-esquerda do presidente deposto João Goulart e do deputado Leonel
Brizola.
3 - O PDC, partido
democrata-cristão dos deputados Franco Montoro e Plínio de Arruda Sampaio.
4- O PSB, partido de
centro-esquerda dos deputados João Mangabeira e Francisco Julião, o homem das
Ligas Camponesas.
5- O PCB, a principal
referência da esquerda da época, comandado por Luiz Carlos Prestes.
Surpreendentemente, o
principal líder civil do movimento de 1964, o governador da Guanabara, Carlos
Lacerda, nome maior da conservadora UDN, de centro-direita, rompeu com o novo
regime e foi para a oposição.
Os militares prometeram
depor João Goulart e entregar o país à normalidade constitucional. Porém, não
cumpriram a promessa: suspenderam a eleição para presidente marcada para o
final de 1965.
Lacerda, candidatíssimo,
rompeu com o presidente Castelo Branco e articulou a Frente Ampla com Juscelino
Kubitschek e João Goulart. A frente foi proibida em 1968.
Porém, a aliança
PSD-PTB-PDC-PSB-PCB e dissidentes da UDN continuou no MDB, o partido-frente de
oposição fundado em 1966 e que empreendeu a longa e persistente resistência à
ditadura.
Foi essa frente que
derrotou Paulo Maluf e elegeu Tancredo Neves presidente em 1985, encerrando 21
anos de regime autoritário no Brasil.
Foi basicamente a antiga
aliança PSD-PTB-PDC-PSB-PCB, agora com outro nome, o bloco progressista, sob a
liderança de Ulysses Guimarães na Constituinte, que nos deu a Constituição
social-democrática do Brasil de hoje.
E foi ela basicamente
que sustentou o governo Itamar Franco, responsável por nos tirar de uma grave
crise econômica que se arrastava desde a recessão de 1983.
Pergunto: o Brasil vive
atualmente uma ameaça à democracia com o candidato da extrema-direita liderando
as intenções de voto? Essa ameaça se configurará?
Uma vez configurada, as
forças democráticas do país devem se unir? Quem são hoje os partidos
correspondentes à antiga aliança PSD-PTB-PDC-PSB-PCB e dissidentes da UDN?
Serão o PSDB e o PT o PSD e o PTB de 1964? Eles serão capazes de se unir e
juntar outros partidos democráticos?
Ou teremos um cenário
pior que o da eleição presidencial de1989, quando Fernando Collor, o
representante da centro-direita, bateu os candidatos do centro, da
centro-esquerda e da esquerda?
Quando as urnas de 25 de
outubro se fecharem, talvez tenhamos as respostas.
Prezado Cláudio.
ResponderExcluirMesmo com a prerrogativa de escrever-lhe em particular, resolvi postar publicamente, até como forma de estimular o debate neste seu espaço.
Eu entendo perfeitamente o receio que possui de uma nova guinada ao autoritarismo e cerceamento das liberdades democráticas. E eu não vejo um perigo nisso na figura de Jair Bolsonaro. Ele possui sangue quente, que faz aflorar opiniões que o politicamente correto e o senso comum mandam que sufoquemos. O que não quer dizer que ele seja, de fato, racista, misógino, machista ou homofóbico. Tenho acompanhado sua movimentação intensamente desde que resolvi declarar meu voto nele e notei muitas mulheres, negros e membros da comunidade LGBT apoiando o ex-capitão do exército.
Os valores que ele busca resgatar incluem a convivência harmoniosa, não a imposição de doutrinas que têm pautado a militância de esquerda engajada no feminismo e agenda LGBT.
Além disso, a presença do economista liberal Paulo Guedes está dando ao mercado vislumbres de que poderemos ter uma economia realmente livre, com o Estado apenas desempenhando funções regulatórias onde se fizer necessário.
Vejo caso parecido com o de Trump que, tem feito crescer o emprego em seu país, e isso incluindo mulheres, latinos, negros e LGBTs. Para o capitalismo, cada segmento social é uma força de consumo a ser respeitada em seus direitos. É nisso que Paulo Guedes acredita e é nisso que Bolsonaro está apostando.
Então, respondendo à sua indagação: Não, não acho que o Brasil vive uma ameaça à democracia com o candidato da extrema-direita liderando pesquisas. E também não acho que seja justo com os fatos (e não as narrativas repetidas à exaustão) taxar Bolsonaro de extrema-direita.
Também contesto a visão romântica sobre o que seriam nossas forças democráticas, muitas delas apoiando ativamente regimes ditatoriais. Sobre isso, inclusive, lembro que Bolsonaro foi convidado e foi para os EUA, Israel, Japão e Coréia do Sul. Países com fortes interesses comerciais com o Brasil e que não têm interesse de aplicar dinheiro em ditaduras latinas, seja de esquerda ou direita.
Bolsonaro está no rumo de quebra de alguns paradigmas políticos e um deles, creio eu, será desmontar essa ideia de "retorno às trevas" que está sendo propagada. Do meu ponto de vista, a chance histórica de uma quebra com os paradigmas de esquerda deve ser levada em consideração, com efeitos profundos derivados do fim das cotas (e valorização da meritocracia) e fim dos métodos de Paulo Freire e socioconstrutivistas no ensino, o que pode - repito, PODE - levar o combalido ensino brasileiro a uma recuperação a longo prazo perante avaliações internacionais de capacidade intelectual.
A aposta é alta, mas as necessidades exigem algo mais do que o velho conceito de governo de coalizão e diálogo com amplos setores da sociedade e com todas as forças democráticas. Aqui no Brasil - e não estamos no Leste Europeu - sabemos bem o que isso tem feito ao país.
Posso estar enganado, mas nunca tive tanta convicção em uma opção política.
Abraços!
Nagado, seus comentários são sempre bem-vindos. Respeito sua opção. Você aponta questões importantes que merecem reflexão e debate. Pretendo escrever sobre elas oportunamente. Grande abraço.
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