sábado, 29 de setembro de 2018


03 - Ciro é esquerdista?

Ciro Gomes foi eleito deputado estadual em 1982 pelo PDS, o partido que dava apoio ao regime ditatorial de 1964. (1) Ao assumir o mandato, Ciro foi para o PMDB. Aliou-se a Tasso Jereissati que em 1986 foi eleito governador do Ceará.

Tasso e Ciro foram fundadores do PSDB cearense em 1988 e dois anos depois Ciro foi eleito governador pelo partido, deixando o mandato para assumir o Ministério da Fazenda em 1994, a convite do presidente Itamar Franco.

Centro-esquerda?

Em 1998 Ciro deixou o PSDB e saiu candidato a presidente da República pelo PPS, partido de centro-esquerda liderado pelo deputado Roberto Freire. Em 2002, Ciro saiu novamente candidato pelo PPS em aliança com o PDT e o PTB.

Os três partidos apoiaram Lula no segundo turno. PDT e PPS deixaram o governo Lula respectivamente em 2003 e 2004 por se sentirem excluídos das decisões e por discordarem da política econômica de austeridade de Palocci. (2)

Ciro era ministro da Integração Nacional, decidiu ficar no governo e transferiu-se para o PSB de Eduardo Campos, outro partido da centro-esquerda.

Ciro tentou sair candidato a presidente em 2010 pelo PSB, mas Lula pressionou o partido para apoiar Dilma. Em troca, apoiaria a reeleição de Campos ao governo de Pernambuco e a candidatura de Ciro ao governo de São Paulo.

Ciro transferiu o domícilio eleitoral para São Paulo, mas sua candidatura foi vetada pelo diretório paulista do PT. Sem apoio dos petistas, Ciro desistiu e não concorreu a nenhum cargo eletivo em 2010.

Populista?

Em 2013, o PSB foi para a oposição à Dilma e Ciro foi para o PDT, também um partido da centro-esquerda.

Como se vê, Ciro circula na faixa da centro-esquerda. Mas sua trajetória do PSDB ao PDT talvez revele as causas das restrições que muitos lhe fazem.

Para alguns analistas, o PSDB era originalmente socialdemocrata. (3) No poder, o PSDB fez um misto de liberalismo e socialdemocracia de terceira via. (4)

O PPS é considerado um partido do socialismo democrático próximo do pensamento social-democrático, assim como o PSB. Enquanto o primeiro se aproxima de uma visão do papel do Estado como regulador, o PSB mantém uma posição de maior intervenção do Estado na economia.

O PDT era o partido brasileiro filiado à Internacional Socialista, a organização
que congregava os partidos de tendência socialdemocrata de todo o mundo. Mas,
o PDT sempre reivindicou a tradição do populismo getulista.

As ideias econômicas de Ciro e do PDT estão próximas do antigo nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950 e 1960, tentado por Dilma e que resultou na recessão de 2014-2016.

Os populistas, de direita e de esquerda, não valorizam muito os partidos, instituições fundamentais da democracia representativa. Talvez isso explique a trajetória de Ciro por diversas legendas e o seu estilo personalista e autoritário, pondo em dúvida sua capacidade de articular uma ampla base de apoio que lhe desse governabilidade.

Ciro apoiou aos governos Lula e Dilma, com críticas à aliança com o MDB, ao patrimonialismo e a aspectos da política econômica, principalmente no governo Dilma.

Pragmatismo?

Na sua campanha de 2002, Ciro teve como assessor o economista liberal José Alexandre Scheinkman, que pode demonstrar abertura do candidato a uma gestão econômica mais pragmática, dada a grave crise econômica do Brasil. (5)

Para melhor juízo sobre Ciro, seria bom que os jornais trouxessem reportagens sobre a condução dos governos do Ceará sob a lideranças dos irmãos Gomes.

ANTERIORES:

1 - BOLSONARO É NAZISTA?
2 – HADDAD É COMUNISTA?
https://brasildemocraticoesocial.blogspot.com/2018/09/normal-0-false-false-false-pt-br-ja-x_23.html

PRÓXIMOS TEXTOS:

4- ALCKMIN É DIREITISTA?
5- MARINA É COMUNISTA?

NOTAS

(1) Segundo Ciro, sua filiação ao PDS deveu-se ao seu pai, então prefeito de Sobral, que encaminhava sua sucessão em 1982 e cujo adversário principal era o PMDB.
(2) Brizola chamou Lula de traidor por aceitar o acordocom o FMI e por promover uma política monetarista sob o comando de Palocci na Fazenda. E chamou o OT de “abafadores de maracutaia”. O líder do PDT morreu em 2004 e em seu velório Lula foi vaiado pelos pedetistas. Em 2006, o PDT lançou a candidatura a presidente da República do senador Cristovam Buarque, que deixou o PT após ser demitido do Ministério da Educação pelo telefone. Em 2007, sob o comando de Carlos Lupi, o PDT voltou ao governo Lula.
(3) Luiz Werneck Vianna:
Os paulistas PT e PSDB
(4) Uma boa análise do governo Fernando Henrique Cardoso foi feita pelo professor Brasilio Sallum Jr, da USP
O Brasil sob Cardoso: neoliberalismo e desenvolvimentismo
(5) Presidenciáveis repetem erros que geraram a crise, diz economista.

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